O mais popular dos BRIC

Fonte: ISTOÉ DINHEIRO
12.ABR – 09:30

“Brasil é o mais popular entre os BRIC”

A afirmação é de Jim O’Neill, chairman do banco Goldman Sachs Asset Management, que não se surpreendeu com a elevação da nota do Brasil pela Fitch na semana passada. Confira entrevista exclusiva para a DINHEIRO.

Por Carla Jimenez Jim O’Neill, chairman do banco Goldman Sachs Asset Management, criador do acrônimo BRIC, que representa Brasil, Rússia, Índia e China, não se surpreendeu com a elevação da nota do Brasil pela Fitch para BBB, no último dia 4 de abril. “O upgrade apenas reforça o entusiasmo com o Brasil”, disse ele à DINHEIRO. A nota, aliás, veio uma semana após O’Neill afirmar que os BRIC não podem ser mais tratados como emergentes, mas sim, economias em crescimento.

DINHEIRO – Como o senhor vê a elevação da nota de rating para o Brasil pela agência de risco Fitch?

O’Neill – Não creio que seja uma grande notícia, não me surpreende. O upgrade apenas reforça o entusiasmo do mundo pelo Brasil.

Os investimentos diretos no Brasil começaram fortes neste início de ano (US$ 10,7 bilhões até fevereiro). Como deve se comportar esse fluxo de capital em 2011?

O Brasil é provavelmente o país mais popular hoje entre os quatro BRIC. Acho que pode haver algum risco de valorização da moeda, mas o grande desafio do Brasil até pouco tempo era atrair investimento estrangeiro direto. Agora, é o contrário, ou seja, administrá-lo. Isso é um ótimo sinal.

O senhor disse recentemente que Brasil, Índia, Rússia e China, que formam o BRIC, não são mais países emergentes. O conceito de BRIC está mudando?

Os BRIC continuam sendo os BRIC. Mas esses países se tornaram tão importantes que eles não deveriam mais ser considerados como mercados emergentes. O Brasil é a sétima maior economia no mundo, China é a segunda. É até um insulto dizer que eles são emergentes. São economias em crescimento.

E o que são economias em crescimento?

É um conceito que caberia inclusive, para outros países: Coréia, Indonésia, Turquia, México. Junto com os BRIC, são países que representam, cada, 1% ou mais do PIB global. Por isso não deveriam mais chamá-los de emergentes. Até como oportunidade de fazer negócios.

De que ponto de vista é uma oportunidade?

Quando você fala que um país está em desenvolvimento, implica que essas nações são muito arriscadas. E estes países são responsáveis pelo crescimento do mundo. Quero encorajar os investidores, para que avaliem esses países do mesmo modo que eles olham para o G7.

O governo brasileiro está preocupado com a inflação, que pode ultrapassar a meta. Que risco o senhor vê?

Acho que a taxa de inflação atual é uma conseqüência do forte crescimento no ano passado. Penso que à medida que o País se adapta ao crescimento, a inflação irá para níveis mais baixos. Não acho que há um grande problema de inflação na verdade.

Qual sua expectativa de crescimento para o Brasil este ano?

Algo perto dos 5%.

Mesmo com o mercado pressionando o governo pelas perspectivas de alta acima da meta?

Se você pensar na história do Brasil, é bom que o mercado se preocupe quando a inflação está perto dos 6%. O que o País pode fazer é um esforço para retornar ao centro da meta. Incluí o Brasil nos BRIC em função do sucesso do sistema de metas de inflação. É realmente importante que a inflação se mantenha baixa.

O presidente dos EUA, Barack Obama, esteve no Brasil recentemente e sinalizou o interesse de fazer negócios com o País, em diversas áreas, como a de petróleo. Ao mesmo tempo, o Brasil precisa negociar com a China. Como falar de igual para igual com as maiores economias do mundo?

É uma oportunidade para os Estados Unidos, em buscar alternativas para suprir sua necessidade de energia e acho que o Brasil tem de negociar da melhor maneira para si mesmo. O mesmo vale para a China. O Brasil não pode se intimidar, tem de ser de igual para igual.

Como o terremoto e a crise nuclear do Japão podem afetar a economia global?

Não acho que a crise atual do Japão seja relevante para o mundo como fato econômico. Vejo como uma possível crise de energia, mas para a economia não é algo importante, é um efeito muito pequeno. E não haverá grande contágio para o mundo. Ela pode até ajudar o mundo porque a política de resposta do banco japonês foi agressiva, deu liquidez ao mercado.

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